tipo de ponte mais comum |
Oitavo
dia – 13 de abril de 2013 (Zampa)
Terminei
o relato anterior falando de internet. Volto ao assunto. Em muitos lugares os
hotéis não tem e quando tem wireless, prevalece o “less”, ou numa tradução livre; "lerda". Fazíamos malabarismos – mudávamos de quarto, de posição nos quartos,
íamos para corredores, etc.. em busca de saciar nosso vício, nossa dependência
mental para com esta coisa tão fluída, intangível e imaterial. Aliás o sinal da
telefonia em geral é bastante ruim. Dentre as operadoras, a mais presente é a
Vivo. Newton que tinha chip dessa operadora navegava com mais facilidade. As demais
nem dão sinal e quando dão, não funcionam. Em alguns lugares, na tela de meu
celular de dois chips (vivo e tim) apareciam três operadoras! Mas, nenhuma
funcionava! Aliás, isso dos sinais de telefone virou piada. Como Newton sempre
viajava à frente – a L200-Savana estava com carga e tem menor torque que a
Xterra - sempre que nos aproximávamos
dos lugarejos e cidades, sabíamos que ele estava tentando achar sinal pelos
sintomas que sua Savana mostrava: menor velocidade e movimentos oscilantes! Newton passou a ser nosso buscador oficial de sinal telefônico.
Devem ter notado que as metas imaginadas,
ainda em Salvador, não tem sido atingidas. Como disse, isso
não tem a menor importância para nós, mas indica que as estradas estão menos
transitáveis e que temos tido que conduzir com menor velocidade. Hoje estamos
saindo de Cotriguaçú/MT as 08:30 hs. no horário de Brasília, uma hora a menos
no fuso horário de Mato Grosso. Descobrimos que a maioria dos lugares do lado
leste de MT simplesmente ignora o fuso horário oficial do Estado e segue o de Brasília.
Aqui não. Imaginamos que hoje chegaríamos a Machadinho do Oeste, já em
Rondônia. Não chegamos. Essa é uma parte do percurso que não consta dos mapas
impressos e nem dos digitais (Google, Igo, etc.), portanto as informações
preliminares pouco valem. No Google, por exemplo, não existe ligação entre
Cotriguaçú e Colniza e nem entre essa e Machadinho do Oeste. Ainda bem que o
mundo real é diferente do virtual, por mais que alguns não acreditem nisso…
Abastecemos
as viaturas com o diesel mais caro até agora: R$ 3,24! Cerca 50% mais caro do
que tínhamos encontrado em alguns outros lugares. Não adiantava chorar. Esse
assunto de diesel merece uma nota: por aqui o mais comum ainda é o
S-1800, as vezes o S-500, portanto os felizes proprietários de viaturas 2012 em diante - que só bebem diesel S-10 - não devem se arriscar por estes lados! Só há postos
com tal combustível às margens das grandes rodovias e estas já estão
asfaltadas! Quando o combustível se disseminar por estes lugarejos, é possível
que as estradas entre eles estejam também asfaltadas, e aí, bye bye off
road!
Chega
de conversa: pé na estrada!
Ainda
nos arredores da cidade, povoado de dezenas de serrarias – toda gente reclama
da derrubada das matas, mas sonha com um móvel de
mogno, não é? – erramos a saída. Descobrimos o erro ao perguntar a um homem que voluntariamente tapava buracos da estrada. Demos uns doces ao filho de uns 10 anos (balas: reconheço que o duplo
sentido da palavra é meio assustador, como espantado me fez ver isso Elisio Macamo, um amigo moçambicano). Voltamos uns 05 quilômetros e
encontramos a placa de sinalização que havia passado despercebida: a
“TransNoroeste, compra e venda de gado” fazia o papel que caberia ás
autoridades rodoviárias. Agradecemos os votos de “Boa Viagem” e tomamos o rumo
indicado .
Cerca de uma hora depois pensamos que a estradinha – comparem
com as fotos de outras estradas que postamos – estaria interrompida ao vermos
um trator e equipe trabalhando numa ponte. Por aqui, na maioria das vezes, não
são as estradas que impedem a passagem, mas as pontes frágeis que são levadas
pela força descomunal das águas.
Estavam recolocando as pranchas sobre
os troncos que cruzavam o riozinho. Esses, felizmente, estavam lá e alinhados.
Passamos sem dificuldade. Poças e atoleiros meio velhos e até mesmo
alguma poeira na estrada, parecia ser a rotina, mas não tardou muito e topamos
com mais uma cena parecida com as que relatamos, mas de conseqüências mais
graves: uma carreta (bi-trem) carregada de madeira serrada, vindo de Colniza,
não tinha conseguido subir a ladeira lisa e enlameada e voltado de ré sem
controle: retorceu-se toda, espalhando a carga. Parecia uma cobra morta. Estava
ali há três dias.
Não havia como passar pelo leito da estrada. Tivemos
que arranjar um desvio pela lateral, entre a estrada e a cerca de uma fazenda.
Literalmente abrimos caminho. Dentre os muitos veículos que esperavam, um Palio
decidiu nos seguir. Passou porque era “morro abaixo”. Como disse, a cada quilometro a sensação de
que a mata estava querendo fechar a estrada se confirmava. Passamos por
lamaçais e pequenos atoleiros sem problema.
Algum tempo depois
encontramos uma L200 parada. O destino deles era Nova União (que também não existe nos mapas) e o motorista
alegou que a bóia do combustível estava alta. Na verdade era mesmo falta de
diesel. Mais uma vez fomos solidários e Newton cedeu uns litros da reserva que tínhamos
comprado e até então não usado. Quiseram pagar mas Newton disse que não era
preciso. Tínhamos passado por Nova Esperança e a seguir por Nova União.
Por aqui tudo parece não somente ser novo, como precisa ostentar essa condição em seu nome.
Espero que os moradores tenham realmente reforçado as esperanças e a união.
Tocamos adiante entre uma paisagem que oscilava de pastos – próximos aos
vilarejos – quanto de mata cada vez mais exuberante, chegamos pelas 14.00hs a
Colniza, onde almoçamos, e seguimos adiante, obedecendo a placa que indicava
nosso destino: Guariba, Rio Roosevelt, Três Fronteiras. Mas quando saímos já
era por volta das 15:00hs e intuímos que dificilmente iríamos chegar à balsa do
Roosevelt e menos ainda chegar a Três Fronteiras, porque nuvens
ameaçadoras pareciam querer despencar sobre o mundo, num dilúvio reeditado.
Quase uma hora depois da saída, chegamos ás margens do belo e caudaloso Rio Aripuanã e nos admiramos que fossemos
atravessá-lo por uma ponte de madeira de mais de 200m e não por balsa, como
ocorrera em rios semelhantes. As marcas de água na parede de um boteco, precariamente
equilibrado às margens, mostrava que o rio tinha, recentemente, passado mais de
um metro por cima da ponte.
As nuvens pesadas seguiam ameaçando.
Pouco adiante cruzamos com uma boiadinha cujos bois estavam surpreendentemente
magros. Certamente alguma doença ou vermes os tinham atacado, pois falta de
pasto verde não podia ser. Não tardou para que encontrássemos outro “animal” típico
daquelas bandas da Amazônia: o “jerico”. Sim, jerico! Essa espécie local é uma
geringonça, obra humana, montada com peças e sucatas de vários carros
diferentes movidos a um motor diesel estacionário! Até corrida oficial existe!
Uma das fotos não ficou boa, mas a outra mostra o feliz proprietário dirigindo
um deles.
Atoleiros
de maior vulto foram aparecendo, mas já estavam meio secos. Pena que a chuva
que caía era fraquinha. A forte ficara na ameaça. Teria sido ótimo atravessar
alguns deles repletos de lama!
O dia se findava e o lindo por
do sol emoldurado pela floresta, demarcava nosso caminho.
A noite caiu e seguimos pela escuridão. Pelas
nossas contas Guariba não estaria distante. De fato, cerca de uma hora e meia
depois, lá chegamos pelas 19:30hs. Procurei me informar onde ficava o restaurante
e hotel do João e Noeli, com quem havia falado por telefone antes de partir de
Salvador. Casal muito simpático e gentil. Nos hospedamos no hotel deles (o único,
aliás) e, como sempre, fomos em busca de uma cervejinha e comida. O filho deles
indicou dois lugares: o Skinão, segundo ele mais movimentado, e um outro, próximo
ao hotel, que estava abrindo as portas naquele dia. Decidimos ir conferir o
primeiro. Nenhum movimento. Optamos pelo novo que, ao menos, tinha uma meia dúzia
de pessoas. Tomamos “Cristal” e comemos uns espetinhos e fomos para o hotel
dormir. No dia seguinte, no café da manhã, João nos perguntou se tínhamos visto
o que se passara no Skinão ou se tínhamos ouvido os tiros pois o gerente do
mesmo, lá pelas 22:00hs tinha sido assassinado a tiros! Motivo: ele colocara
sua filha menor de idade e juntara outras meninas na lanchonete para “atrair”
clientes. Não se afirmou que havia prostituição. De qualquer modo aquilo tinha
gerado denúncia no Conselho Tutelar e a polícia tinha ido alertar para parar
com a prática. Parece que havia parado, mas sua filha andava envolvida com
homens adultos e naquele dia tinha saído desde a tarde para beber numa festa nas
redondezas da vila. O pai foi lá “tirar satisfação”. Horas depois, um dos participantes
da tal festa veio à cidade, disparou os tiros à queima roupa, montou na moto e
embrenhou-se mundo afora. Ainda bem que
lá não estávamos!
Olá Zampa,
ResponderExcluirestou adorando as aventuras de voces e aqui no trabalho, morrendo de inveja. O blog ficou com um visual belíssimo e os relatos são verdadeiras aulas sobre a realidade desse nosso Brasil, que poucos tem a oportunidade de conhecer.
Força e mandem notícias.
bj
Marcia Barral