terça-feira, 7 de maio de 2013

Sétimo dia, 12 de abril de 2013 (Zampa)



7º dia, 12 de abril de 2013. Impressões do Zampa


Saímos de Carlinda com destino a Colniza, via Cotriguaçu. Seriam mais de 400 km. Tendo em vista que no dia anterior tínhamos rodado isso, com balsas e desatolamento de carreta, então parecia realizável. Na verdade, antes mesmo de começar nossa expedição, tínhamos tomado a decisão de que nossa única meta era viajar, sem correrias, sem atropelos, sem desesperos: o nosso prazer em parar para contemplar uma aglomeração de buritis – as fantásticas palmeiras, onipresentes na narrativa de João Guimarães Rosa e suas “geraes” – um belo igarapé ou rio, uma enorme castanheira, um lindo por do sol, ou simplesmente uma plantação, pasto ou boiada, estava acima de qualquer meta. Assim, na noite anterior, simplesmente revisávamos a direção que iríamos seguir. Pararíamos quando escurecesse. Embora estejamos equipados com material de camping, sabíamos que, ao final de um dia intenso, uma cama seria mais acolhedora, de maneira que tentamos fazer coincidir o anoitecer com algum vilarejo onde dormir. Até aqui os hotéis tem variado pouco de qualidade, exceto o mais caro deles, nossa primeira noite na estrada, em Barreiras: R$ 150,00 em quarto triplo. Os demais oscilam entre R$90,00 e R$120,00. Sempre procuramos por quartos triplos, seja  pelo preço, seja pela oportunidade de ficarmos juntos, trocando impressões sobre a viagem e pessoas, enfim o salutar hábito de jogar conversa fora.
         Pegamos estrada. A cada quilometro a qualidade da pista oscilava. A sensação de que o barro estaria piorando nos deixava animados. Trocávamos impressões pelos rádios. Não demorou muito para que numa subida – sem grandes atoleiros – especialmente lisa, encontrássemos um caminhãozinho baú atolado. Embora não fechasse fisicamente a estrada os demais caminhões não se arriscaram a sair da trilha principal para passar pelas laterais, correndo o risco de derraparem e atolarem feio. Com a L200, Newton passou fácil e nem precisou de minha ajuda para arrastar, ladeira acima o Ford Cargo 815.

 Tocamos adiante. Pela hora do almoço, nova ladeira. Desta feita grandes carretas e bi-trens, carregadas de soja, arroz e madeira, vindo em sentido contrário estavam empacadas, segurando o trânsito dos demais, inclusive ônibus . Fomos avaliar a situação e concluímos, junto com os motoristas das carretas que, desta feita, nossas viaturas seriam impotentes para arrastar, morro acima, veículos tão pesados.
 A solução  foi passar pela lateral, coisa que os caminhões não faziam com medo de derrapar e tornar tudo pior.  A ironia é o nome grafado na primeira carreta atolada: Urbano. Longe disso!
Seguimos adiante. Passamos batido pela entrada de Alta Floresta e seguimos. Exceto por pequenos atoleiros nas baixadas e algumas ladeiras especialmente lisas, como as descritas, a estrada estava boa. Boa demais para nosso gosto.

Trechos retos. Fendas abertas na mata. Ao lado, torres de alta tensão levam energia elétrica para quase todos os lugares. Casebres, cobertos de folhas de palmeira, com energia. É o sucesso do programa “Luz para todos”, levando o mínimo de conforto para o sertanejo, enfiado mata adentro.

 Estávamos na MT 208 e uma placa oficial do governo do Mato Grosso anunciava que exatos 39,5km seriam asfaltados em 420 dias (mais de uma ano!!) mas, sorrateiramente, não indicava a data de início ou de término da obra.

Seja como for, o asfalto deve ter ficado na placa ou ido parar nos bolsos de alguém. É bem verdade que algumas pontes de cimento (de uma via) estavam prontas, mas a maioria era a tradicional, de troncos e tábuas, e não vimos nenhum sinal de obras.  O certo é que na estrada o asfalto não estava, para tristeza dos moradores e alegria nossa. Belos e volumosos rios médios, se sucediam.


A fome apertava. Para minimizar seus efeitos tínhamos barrinhas de cereais, preferidas de Lucas e Newton, mas eu apelava mesmo era a famosa pipoca japonesa, da  qual levei sacos e sacos. Hidrato de carbono, pouco açúcar, sem sal e, o mais importante: sabor de infância! O que nos animou foi que descobrimos que o paraíso não estava longe. Ao menos a lanchonete “Paraíso Tropical”. Japuranã, onde almoçamos, não estava longe.

A estrada estava melhor, mas a cada quilometro rodado se tornava mais estreita e a mata parecia querer retomar o território que um dia fora seu.
  Não é de se entranhar que tenhamos avistado uma capivara – o bando deveria ter terminado de atravessar a estrada, já que este não é um animal solitário – que não ligou muito para nós.

Alguns quilômetros adiante e chegamos ao atracadouro às margens do grande Juruena e lá estava o famoso “hotel e restaurante”, cuja placa havíamos visto à beira da estrada, quilômetros atrás. As telas em todos as janelas e áreas construídas indicavam que ali os mosquitos não brincavam em serviço. Não tardou e descobrimos isso na pele.

Eufóricos, fomos logo descendo dos carros, animados com a paisagem do grande rio. Nos demos conta do ataque quando os primeiros dos milhares de mosquitos piuns que sorrateiramente sugavam nosso sangue já estavam satisfeitos e o efeito do anticoagulante expelido por eles começou a causar reação. Apelamos imediatamente para os repelentes até então sem uso, mas qual o quê! Nada parecia intimidar a chusma sanguinária. Newton sentiu o efeito com mais intensidade e ficou com braços e pernas empoladas. A solução foi imediata: entrou na Savana, ligou o ar condicionado e ali ficou num exílio confortável! O terreno molhado, as galinhas e os porcos soltos que perambulavam em meio à sujeira certamente contribuíam para a tamanha proliferação de sedentos mosquitos. A falta de higiene era óbvia. Ainda bem que havíamos almoçado noutro lugar. Eu e Lucas nos afastamos da casa/bar e procuramos sombra mais distante. Lá os ataques quase não existiam. A hora de espera da balsa, nunca pareceu tão longa (pegamos a das 15:30hs).

No meio do rio, para nosso alivio, não havia mosquitos. Um dos marinheiros disse que já se habituara aos mosquitos. Difícil acreditar a se julgar pelo estado de seu pescoço que parecia um campo minado por milhares de picadas. Atravessamos o Juruena em cerca de meia hora. Um estrada difícil, cheia de buracos e lama, tomou-nos 03 horas para percorrer os 70km que separam a balsa de Cotriguaçu. Chegamos às 18:00hs. Havíamos rodado 413km em 9:30hs. Como sempre a prioridade foi localizar um hotelzinho, depois seguir para a cervejinha, tira-gosto, banho e cama, não sem antes insistir em ter acesso à internet. Tarefa mais penosa que dirigir o dia todo!

3 comentários:

  1. qual o telefone de vcs e o junior de manaus

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  2. Interessante ver uma carreta da minha cidade, Jaraguá do Sul, norte de SC a milhares de km levando o Arroz Urbano (de propriedade do sr. Urbano Franzner).

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